segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Universidades decadentes caem de maduras


22.12.2008 - 08h40 (Público)
«Nos últimos três anos, as transferências do Estado para as instituições de ensino superior têm vindo a diminuir e já não chegam para cobrir as despesas correntes.»

Como noutros sectores da função pública, o essencial das despesas correntes das universidades públicas vai para salários. Agora que o dinheiro escasseia, todos se queixam, sobretudo perante a perspectiva de as universidades terem de começar a procurar fontes de financiamento autónomas e complementares. A autonomia das universidades é uma rua de dois sentidos. Infelizmente, as universidades portuguesas não investiram a tempo e horas na contratação de mão de obra qualificada, o que, no nível universitário quer dizer, no mínimo, doutorados.
Ora, doutorados não faltam nem faltaram nos últimos anos, apenas a vontade das pessoas de poder na universidade em contratá-los, sem dúvida pelo receio da concorrência. Como explicar de outro modo a manutenção de contingentes de licenciados a dar aulas nas universidades décadas a fio? Como explicar a cultura que durante anos reinou nas universidades portuguesas segundo a qual o doutoramento seria uma coisa para "mais tarde" e não raras vezes se ouvia falar de fulano de tal que se doutorou dois anos antes de se reformar? Conte-se isto a universitários franceses ou ingleses e ouvir-se-á uma boa gargalhada. Em qualquer lado da Europa Ocidental o doutoramento é o requisito mínimo para dar aulas numa universidade!

Irónico é agora queixarem-se de falta de dinheiro para formar "quadros" e rejuvenescer o corpo docente:

«Com menos dinheiro, a maioria das instituições reconhece que vai adiar projectos, quer de formação dos quadros como de renovação ou construção de novas instalações, o que põe em causa a qualidade do ensino. A impossibilidade de rejuvenescer o corpo docente preocupa o reitor da Universidade de Lisboa, António Nóvoa, tal como a não abertura de concursos para a promoção dos professores, acrescentam Mascarenhas Ferreira, reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, e Luciano de Almeida, do Politécnico de Leiria.»

Na minha opinião, enquanto não cessarem a renovação dos contratos das pessoas que enganaram durante anos com perspectivas de futuro universitário sem formação mínima para isso e não começarem a contratar os doutorados que ainda não se puseram a andar para o estrangeiro, podem ir todos bugiar com as suas lógicas da mediocridade. O governo tem toda a razão em não gastar mais dinheiro dos contribuintes nestas universidades decadentes.

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